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Com balada nas alturas e telemarketing, centro de SP atrai novos negócios e vive retomada



Do terraço da recém-inaugurada casa noturna no 22º andar dá para ver as lojas com portas de aço fechadas, entre elas a do tradicional Café Girondino, que encerrou operação em maio após 26 anos funcionando no mesmo endereço do centro histórico de São Paulo.


O contraste entre topo e térreo dos prédios no entorno do Mosteiro São Bento reflete um fenômeno pós-pandêmico: apesar da alta de 40% no número de empresas que iniciaram atividades na região central entre 2019 e 2023 –passando de 15 mil para 21 mil– e da queda de 10% nos encerramentos anuais –de 6.300 para 5.700–, o que ainda se vê nas ruas são muitos estabelecimentos fechados.


Para achar a explicação é preciso olhar para o alto, segundo Roberto Ordine, presidente da Associação Comercial de São Paulo. “As empresas estão se instalando do primeiro andar para cima”, diz. Os números de abertura e fechamento de empresas, levantados a pedido da Folha pela Secretaria Municipal da Fazenda, referem-se aos oito distritos da região central: Sé, República, Bom Retiro, Santa Cecília, Consolação, Bela Vista, Liberdade e Cambuci.


Se observada apenas a evolução das empresas ativas no triângulo histórico paulistano –área do centro delimitada pelo Pateo do Collegio e os largos São Francisco e São Bento–, há reforço da ideia de a região tem ganhado a preferência de empreendimentos que não funcionam com a porta para rua. De janeiro a maio de 2023, o comércio varejista representava 26 dos 79 negócios ativos no perímetro, seguido de longe por empresas de alimentação e de pesquisas, ambos com 6 estabelecimentos cada, segundo dados da Associação Comercial. No mesmo período de 2024, as lojas do varejo ainda lideravam, representando 30 de 117 empresas, mas com uma fatia menor do bolo.


O segmento caiu de 33% para 27% no intervalo. Além disso, o setor passou a ser seguido de perto por 24 empreendimentos de saúde (20%) e por 21 do ramo de escritórios (18%). A associação disse não ter dados de períodos anteriores. Foi na cobertura do septuagenário edifício Fernão Dias, na esquina da avenida Prestes Maia com o viaduto Santa Ifigênia, que o empresário Exequiel Felipelli, 41, encontrou uma oportunidade de inaugurar a casa noturna Ephigenia com um atrativo que ele descreve como ímpar. “Aqui temos uma vista de quase 360 graus para o centro de uma megalópole belíssima quando está iluminada”, diz. “É algo raro não só no Brasil, mas no mundo.”


Para empreender nas alturas, porém, o argentino radicado há 20 anos no Brasil precisou lidar com o temor que a rua desperta, sobretudo à noite. Dez seguranças particulares ficam espalhados no trecho de 100 metros do ponto de parada dos carros de aplicativo até a porta. Apesar de um posto da Polícia Militar funcionando 24 horas na esquina, é preciso dar sensação de segurança para um público que acha que a cracolândia está por todo centro, explica o empresário.


A cena de consumo de drogas a céu aberto está a 1 km do prédio. “Isso tem um custo, mas vale a pena, queremos fazer parte desse movimento de recuperação”, diz Felipelli. Ampla oferta de transporte e acessos viários, diversidade de serviços, conexão de internet e energia relativamente estáveis compõem vantagens há muito tempo presentes na região.


A novidade no pacote é a possibilidade de usufruir dessa infraestrutura com custo mais baixo. Além da disponibilidade de espaços a preços mais acessíveis do que em áreas estruturadas das zonas oeste e sul, Prefeitura de São Paulo e Câmara Municipal têm aprovado ou ampliado diferentes benefícios que vão desde a aplicação direta de recursos na modernização de edifícios, isenção parcial de IPTU e redução de 5% para 2% da alíquota do ISS (Imposto Sobre Serviço) para alguns segmentos empresariais.


Pagar menos impostos tem sido o fiel da balança para negócios com margens de lucro diminutas traçarem planos de se instalarem no centro, afirma Gustavo Faria, vice-presidente da ABT (Associação Brasileira de Telesserviços). Com 1,4 milhão de trabalhadores formais no país, o setor emprega 15 mil funcionários em quatro empresas nos distritos Sé e República e traça planos para abrir cerca de 10 mil postos nos arredores nos próximos dois anos. “É uma estimativa conservadora, esse número poderá ser maior com a revitalização”, diz Faria.


Citando a percepção de aumento na presença de policiais nas ruas e a alta expectativa com o avanço do programa de monitoramento por câmeras prometido pela gestão do prefeito Ricardo Nunes ( MDB), o representante da ABT diz que a segurança é fundamental 1para a expansão. “Temos 60% de jovens de 18 e 29 anos e 70% de mulheres entre nossos funcionários, são grupos mais vulneráveis à violência urbana”, explica.


 

Leia a notícia completa no texto original da Folha.


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